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A FOFOCA NOS SALVOU



Se você chegar numa sala onde estão trinta pessoas e disser: “finalmente descobriu-se uma técnica infalível para se combater permanentemente a seca no Nordeste!” Você terá no máximo 50% da atenção da sala, e olhe lá. Mas se você perguntar de preferência em voz baixa: “sabem com quem a mulher do Anibal está saindo?” Pronto. Você terá 100% da audiência, todos na sala vão querer saber quem está pegando a mulher do Anibal, mesmo que isso não seja verdade, até quem não gosta de fofoca ficará de orelha em pé para saber quem está pegando a mulher do Anibal.

Pois essa coisa mesquinha, que muitas vezes prejudica as pessoas, que permite o bullying, que faz o ser humano menor, para o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor de Sapiens, foi o que nos salvou como espécie (Homo sapins). Os outros grupos humanos que viveram antes e ao nosso lado no passado, como o Homo rudolfensis, o Homo erectus e o Homo neanderthalensis (os mais conhecidos, porque existiram outros), todos desapareceram da face da terra porque não fofocaram. Nós nos salvamos como espécie exatamente porque inventamos a fofoca, foi ela que nos ajudou a estabelecer relações, a criar grupos de interesse e de defesa, a estabelecer as amizades. Parecia que esses humanos eram elos da mesma cadeia evolutiva, mas não, são grupos humanos diferentes como explica o historiador israelense.

Enquanto os Neandertais, ou o Homo Erectus estavam preocupados com as coisas, em saber se iriam encontrar o leão na beira do rio, ou se teriam comida para o grupo logo adiante, nós, os Sapiens, estivemos interessados em saber quem odiava quem dentro do grupo, quem estava dormindo com quem, quem deveria ser seguido, ou excluído. Estivemos preocupados com os outros, isto é, estabelecendo relações, e foi exatamente isso que nos permitiu sobreviver enquanto espécie e suplantar em conhecimento os outros grupos humanos, e até extingui-los, pois há duas correntes, uma que acredita que houve uma miscigenação entre as diversas espécies humanas, fundindo-se com a Sapiens, a outra acredita que nós, por termos nos desenvolvido mais, simplesmente promovemos a extinção das outras espécies. Conhecendo nossa beligerância e as carnificinas que promovemos contra nossa própria espécie nos últimos 200 anos, parece esta última uma possibilidade bem plausível. 

Das fofocas originais evoluímos para as grandes narrativas, as lendas, os mitos e as religiões, porque enquanto a fofoca só era possível entre os amigos, porque ninguém vai fofocar com desconhecidos, as outras narrativas, ao contrario, fez com que nos ligássemos a desconhecidos. Elas nos ajudaram a crer em destinos comuns e assim foram nos trazendo até hoje. Mesmo que você conheça uma pessoa agora, ao saber que ela professa sua mesma religião, você já a recebe como conhecida, membro da mesma família de pensamento, conversa e se entende com ela como se fossem amigos de infância. 

Por isso as redes sociais fazem tanto sucesso, porque a fofoca está em nosso DNA como elemento de sobrevivência da espécie. Viva a fofoca!

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