Não
conheci meu pai, ele morreu me deixando com um ano e quatro meses e meu irmão
com seis meses, depois disso fomos morar com nossos avós maternos, nos criamos
chamando nossos avós de papai e mamãe, e nossa mãe de Tetê, como todos a
chamavam, mesmo sabendo que era nossa mãe. Hoje ela tem 90 anos e continua
ativa fazendo o que quer, e sou feliz por isso.
Seu
Francisco, meu avô, substituiu meu pai e a família nos encheu de carinho para
que não nos faltasse amor e atenção, mesmo assim, a falta de meu pai me
acompanhou por toda a vida, à medida que eu crescia e as pessoas me vinham
falar dele, eu ficava tentando compor o homem que só conhecia de fotografia.
Aos
sete ou oito anos, próximo ao dia dos pais, a professora pediu que
escrevêssemos alguma coisa, escrevi como se meu pai estivesse vivo, como se tivesse
estado com ele antes de sair de casa. A professora nos conhecia, sabia que era
invenção minha, mas tratou com naturalidade porque não fui contrariado e nunca esqueci
o fato.
Sua
falta me acompanhou a ponto de ao saber que meu primeiro filho iria chegar ser
tomado pelo medo de acontecer com ele o mesmo que acontecera comigo. Naquele
momento eu estava trabalhando no SESC, fazendo freelance na Bloch e ensaiando uma peça, por isso minha mulher foi
para a casa da irmã, eu estava dormindo lá, mas naquela noite, muito cansado,
dormi em casa mesmo, foi quando ela entrou em trabalho de parto e meu filho
nasceu naquela madrugada. Dei a ele o nome de meu pai: Henrique. Ao amanhecer fui
à maternidade conhecê-lo, mas ia com o coração apertado, com medo, ao passar pela
paróquia da Irmandade dos Mártires São Crispim e São
Crispiniano, na Rua Carlos Sampaio, entrei e pela primeira vez rezei com
verdadeira fé, pedi para que Deus permitisse que meu filho me conhecesse, que
eu vivesse, pelo menos, até que ele fizesse quatro ou cinco anos. Sofri
pensando no que meu pai deve ter sofrido ao perceber que a morte se aproximava
nos deixando tão pequenos.
Durante um período
me aproximei da doutrina espirita, cheguei a editar livros na área, e soube que
é comum os parentes voltarem na mesma família. Fiquei um tempo pensando que meu
filho poderia ser meu pai.
Quando
Henrique ia fazer cinco anos, o medo voltou, precisei renovar o pedido para que
Deus me permitisse vê-lo com nove ou dez anos. Fui renovando esse pedido até que
ele fizesse os dezessete. Depois disso percebi que Deus havia me dado à alegria
de poder beijar meu filho por muito tempo. Quando Gabriel, o segundo, estava
para chegar, o medo não apareceu. Um pouco de dúvida somente. De alguma forma
eu havia entendido que Deus estava decidido a me poupar para meus filhos, ele
foi mais generoso comigo que com meu pai.
Henrique veio
hoje para almoçar, Gabriel já fez dezesseis anos, Carla, minha mulher, preparou
a mesa, sentamos todos felizes, e eu emocionado pensando em meu pai.
Linda história de amor e superação! ⚘
ResponderExcluirObrigado pela leitura. Volte sempre.
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