Longe de mim ser contra a
diversidade, sei que quanto mais vozes existirem no mesmo ambiente, mais rico
será essa região. Mas as coisas precisam ser organizadas de forma a não só reforçar
a cor e a voz local, mas preservar alguns aspectos, senão todos, de cada uma de
nossas diversidades, manifestações que dão identidade aos locais e as festas populares.
Por isso estou de acordo com o
movimento “Devolva meu são João”, que o Nordeste está fazendo contra a invasão
dos sertanejos nas festas juninas. Parece muito, mas não é. Se você não
preservar seu espaço, ele poderá sim ser dominado por outro povo. Isso é certo tanto
para a música e as manifestações populares, quanto para os domínios territoriais.
O ano tem doze meses, em onze
deles as cidades poderão apresentar os sertanejos que fazem sucesso em todo o
Brasil, mas deixem o mês de junho para a música nordestina, ou para os artistas
que tocam a genuína música nordestina, que já sofre influência do sertanejo e
de outros ritmos naturalmente. A descaracterização do momento festivo de maior importância
para o Nordeste poderá ser prejudicial em longo prazo sim. Por que o turista,
no futuro, irá ao Nordeste para uma festa que ele poderá vê igual em qualquer
lugar do país?
A diversidade, a originalidade, faz
com que as pessoas possam desenvolver interesses e gostos próprios. Faz com que
cada povo encontre a maneira com a qual mais se identifica e prefere se
expressar. Precisamos ser diferentes para sermos originais.
Eu não gostaria de ir ao carnaval
de Recife e Olinda para escutar samba, nem quero que o carnaval do Rio de Janeiro
seja dominado pelo frevo, na Bahia se toca axé, pronto. São ritmos que conferem
identidade a essas localidades, que as faz ricas culturalmente e totalmente
diferentes. Fazer de um país com as dimensões do nosso, uma coisa só, será um
desserviço, para não dizer, um crime, contra as diferenças, a diversidade.
Já vivemos numa geleia geral de costumes, de
práticas condenáveis, miséria social, baixa política, autoritarismo, falta de
educação, vamos deixar as manifestações culturais que nos referenciam, não
paradas no tempo, porque, assim como o tempo, as manifestações culturais não ficam
estagnadas, mas vamos deixar como são, porque abrir brechas que as
descaracterizam completamente não será bom nem para a cultura, nem para o país.
“Devolvam o meu São João!”
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