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O SÁBIO E O SABIDO



Essa é uma distinção importante entre os homens e as mulheres que, às vezes, se confunde, mas se você reparar vai ver que há uma grande diferença entre uma pessoa sábia e uma sabida, se ainda não prestou atenção, repare. Sobretudo para exaltar as pessoas sábias. Porque as atitudes de algumas sabidas o mundo agradeceria se não tivessem acontecido. 


O que fica claro nessa distinção é que a sabedoria do Sabido está toda na cabeça, e a do Sábio, antes passa pelo coração. Não importa em que estrato social se encontre os dois, isso sempre vai ocorrer. Outra coisa é que as pessoas sábias salvam a humanidade e o mundo, as sabidas nem sempre.     
As sabidas buscam o saber e querem tudo que tem direito, as sábias são ungidas, trazem o saber em si. Saber isso é importante pra quê? Talvez para a gente não se engane, nem se decepcione com as pessoas, o que nos livra de algum stress.

Vamos aos exemplos para que fique claro. No final dos anos 70, eu dirigia o Grupo de Teatro do SESC Tijuca, tivemos aproximação com o compositor João do Vale, de Carcará, Pisa na Fulô, Na asa do vento, entre outras pérolas da música popular. Quisemos fazer um show com ele e começamos a escrever, fomos a sua casa, gravamos algumas fitas num K-7 para depois trabalhar em casa, nos divertimos com suas histórias, mas o show não saiu. Dos encontros ficou uma coisa que nos disse. O avô, família negra e pobre do Maranhão, brigava para que se preservasse um pedaço de floresta virgem, ele não se importava que não tivesse terra para ele, queria que os netos e bisnetos crescessem conhecendo aquele pedaço da natureza. Naquele tempo não havia a consciência ecológica, nos anos 70 também não havia como hoje, mas aquele avô, analfabeto, sabia sem que ninguém, nem nenhum livro lhe tivesse dito, que aquela era uma atitude de preservação do planeta. Ele não pedia para ele, só queria que não desmatassem a floresta. Sempre pensei no avô de João do Vale como um sábio.

De 1994 até 2000, dirigi meu texto O Homem de Nazaré, em Macaé-RJ, um bonito espetáculo que fazíamos na praia de Imbetiba, não me lembro em que ano, em algum dos primeiros, ao chegar à cidade me deparei com uma tragédia, um médico, dono de uma clínica, entrou na sala de cirurgia e matou o sócio que operava uma senhora. Minha amiga Cil, que havia me levado para fazer o espetáculo em Macaé, lamentava o acontecido e dizia não entender como um homem tão preparado, um médico, bem sucedido, com cursos no exterior etc, era capaz de uma barbaridade daquelas.  Pois é, esse médico foi somente um instruído, com toda a sabedoria que o dinheiro, o tempo e as oportunidades dos bem nascidos lhe deram, mas foi apenas um homem sabido, jamais seria um sábio.
Há pouco tempo numa reportagem de TV, vi a história de um senhor que passou a vida reflorestando sua propriedade, recuperando as nascentes etc, enquanto os vizinhos desmataram, plantaram, ganharam dinheiro, e o tinham como um bobo. Hoje as terras dos outros secaram, empobreceram para o plantio e agora os caminhões pipas da prefeitura do município vão buscar água em seu açude. O que ele fez reflorestando e preservando suas terras já seria extraordinária, mas em seguida ele nos deu a maior lição, quando o repórter lhe perguntou quanto custava cada caminhão que saia dali com água, pensei de pronto, chegou a hora de tirar o prejuízo. Mas ele respondeu: “Não, não custa nada. As pessoas precisam da água e vem buscar”. Como quem diz: isso não é meu, foi Deus que botou aí. Vi que ali estava um homem sábio.

Conheço outros exemplos de pessoas sábias, mas o que me vem à mente agora são esses homens públicos que afundaram o Rio de Janeiro e o Brasil, e constato, são todos sabidos, não há um sábio sequer entre eles.     

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