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QUANDO IREMOS ENXUGAR AS LÁGRIMAS?



Dormimos assustados e acordamos perplexos com a violência estampada na TV,  choramos com os pais e irmãos das vítimas, e choramos por nossa própria impotência diante da barbárie que tomou conta das ruas. Semana passada dois carioquinhas foram vitimados no ventre das mães antes mesmo de virem ao mundo.  Escuto que um ainda luta bravamente pela vida,  o outro não teve nenhuma chance. A  família foi atropelada propositadamente
quando ia pela calçada porque os bandidos queriam seus celulares, o marido relata que a mulher não quer falar, vive muda pelos cantos, mas o que poderia falar essa mulher se a palavra que daria sentido a sua vida lhe roubaram? Ela se recusa a falar porque a palavra que gostaria de dizer está suspensa no ar, um grito que só ela escuta clama pelo filho que não nasceu. Que natureza humana é essa capaz de jogar um carro sobre uma família apenas para roubar celulares e alguns trocados? Mas os covardes lhes roubaram muitos mais, roubaram a esperança. Da mesma forma que  os bandidos do colarinho branco roubaram de tantas famílias que choram suas revoltas nos salários atrasados, no desemprego, no medo da violência, na incerteza das ruas e do amanhã. 
 
Hoje foi a vez de Guilherme, quinze anos, por ter se recusado a entregar o celular o executaram no caminho da escola. Nem consigo medir a dor dessa mãe, desse pai, ao ver o jovem filho sem vida. Quando iremos enxugar as lágrimas? 

Será que teremos que pegar em armas para nos defender, as armas que nos fizeram entregar na campanha do desarmamento? Quem virá nos defender? A polícia que nem sempre chegava, agora não virá mesmo, porque mais da metade de seus carros está quebrada, sem recursos para manutenção.      
Uma das coisas que me davam prazer era me exercitar subindo as ladeiras de Santa Teresa ao lado de minha mulher e, ao fim da caminhada, parar num mirante para desfrutar da paisagem, paisagens agora inúteis, porque o medo do assalto não nos deixa contemplar. Esses bandidos nos roubaram até a paisagem.
   

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