“NÃO AMAR É SOFRER; AMAR É SOFRER MAIS!"

Um verso de Juca Mulato, do modernista Menotti del Picchia: "Não amar é sofrer, amar é sofrer mais!", foi lembrado pelas personagens de uma novela da Globo semana passada. As idas e vindas do amor apresentado na novela não é o cerne do poema citado, do amor impossível do mulato com a filha da patroa, mas se aplica ao caso.

Nem sempre o amor vence as diferenças que estabelecemos com nossos parceiros amorosos, as exigências materiais, emocionais, nossa presença, ou nossa ausência, podem desencadear os mais diversos sentimentos, todos legítimos e naturais, mas que nos infelicita quando não estão de acordo com o que esperamos da pessoa amada.

A verdade é que mais que saibamos como agradar a quem amamos, será pouco para dar conta de todos os sentimentos que envolvem uma relação. Nossas insatisfações diárias, profissionais, econômicas, sociais, sem falar do famigerado ciúme, quando há, nos deixam a mercê da próxima briga, da próxima separação.

Se o que queremos na vida é amar e ser amado, porque muitas vezes abrimos mão do amor em troca de sentimentos menos nobres? Deve ser porque o amor por ser puro, se macula na mistura com outros sentimentos, ele é nobre, mas é frágil. 

Pergunte a qualquer amante o que realmente quer da vida, e terá como resposta que é o conforto do abraço da pessoa amada. Mas para que possa haver a felicidade conjugal, o amor só não basta. Para que um possa ser feliz ao lado do outro, será preciso que haja completa independência de sentimentos, isto é, que os sentimentos além do amor possam ser tão diferentes e ainda assim subjugados a esse amor.    

Será preciso que os dois se realizem nas coisas que faz, em suas profissões, seus robes, suas atividades sociais. Não é saudável para os amantes sentarem-se na sala de casa esperando a morte chegar, porque o amor morre antes. Valorizar o tempo em que estiverem juntos talvez seja a resposta mais certa. As pessoas se realizam juntas ou separadas, não importa desde que se realizem como indivíduos. Um casal é formado por duas pessoas que resolveram trilhar o mesmo caminho. 

Essa é a batalha dos casais neste século, alguns mais espertos conseguem neutralizar as diferenças com sabedoria. Estes conseguirão quando velhinhos olhar um para o outro com ternura. Talvez seja essa a maior felicidade, num momento onde não haverá mais competição, nem diferenças, cobranças, sentirem-se amando e sendo amados.

Abaixo o trecho do poema com o verso citado:

"Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre…
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida…
Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito
é o mesmo que cravar uma faca no peito.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais:
não amar é sofrer; amar é sofrer mais"!