Cento e sessenta e dois são os anos de emancipação de minha cidade que hoje
pode festejar com altivez seu aniversário. Ontem foi feita uma bonita festa em
frente ao Centro Cultural, antigo mercado público, para espantar o encosto ruim
e o mau olhado. A cidade sofreu por décadas nas mãos de gestores incompetentes
e descompromissados com a coisa pública, como para cumprir a lenda que se
atribui a um frade negro que foi discriminado pela sociedade da época, segunda
metade do Século XIX, que ao deixar a cidade, bateu as chinelas para limpar o
pó e disse: “70 x 7”, eram os anos da praga.
A se observar o que se vinha fazendo com a cidade até
recentemente parecia que a lenda estava em plena vigência. Coube à prefeita
Eunice espantar a praga e revelar a incurável incompetência dos recentes gestores,
porque nesses dez meses, depois de pegar uma prefeitura no buraco, cheia de dívidas,
está fazendo mais que os quatro anos da gestão passada, graças ao
comprometimento e a clareza com a administração pública.
Mamanguape teve seu apogeu na segunda metade do século XIX e mergulhou em seguida numa decadência horrorosa que fez o escritor Carlos Dias Fernandes chorar ao voltar a ela. O professor Márcio Fernandes me lembrou da passagem do escritor, musicólogo e ensaísta Mário de Andrade, em 1929, registrada em sua obra O Turista Aprendiz, diz ele: “...às 15 e 40 entramos em Mamanguape. Ruínas. Ruínas pacientes dum bom-gosto colonial. Sobrado de azulejo, bom de forma, bem colorido, iluminando a sensação. Saracoteando por uma ladeira monumentalizada pela existência da Correição, escadenta, cor de sangue velho. Moça bonita se oferecendo pra casar... É pena! Adeus, lagartixinha de ruína!..."
Depois da revolução de 30, é bom lembrar também que João
Dantas, o assassino de João Pessoa era de Mamanguape, mas a vingança pelo crime
caiu mesmo sobre ele que foi sangrado dias depois na Casa de Detenção do Recife.
A cidade, ao contrário, começou lentamente a se livrar do abandono, mas logo
virou curral eleitoral de uma família que esteve á frente da prefeitura
diretamente, ou através de seus mandados, até pouco tempo.
Depois de todas essas décadas respira-se independência e um
otimismo que dá gosto de ver, apesar da oposição, que ainda não engoliu a
derrota, continuar com os ataques tentando empanar a administração que trabalha
para ela não revelar o tamanho das incompetências que vieram antes.
Finalmente a cidade tem uma administração comprometida e
isso os ineptos não conseguem engolir. Parabéns para a cidade e para seus
filhos legítimos, ou por adoção, que trabalham para que a cidade respire outros
ares, os do antigo Sertãozinho* de preferência.
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*Banho público, piscina natural no centro de um bambuzal,
rodeado pela Mata Atlântica. Ao nos aproximar dele éramos bafejados pelo cheiro
das águas e pela umidade da mata que nos protegia do sol. Ali não havia roupa
de banho, todos se banhavam nus, em momentos alternados naturalmente. O apito
de um guardião revezava a hora das mulheres e a dos homens, enquanto o outro grupo
se divertia na mata.
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