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CACHOEIRAS





Dois pés de limão gêmeos, um nasceu verde e o outro amarelo, coisas da  natureza, de sementes iguais plantas diferentes, e ainda querem que as pessoas que nascem de sementes tão diferentes sejam iguais, pensem da mesma forma, ou tenham os mesmos gostos.


Dois pés do que se conhece aqui como Papoula de Defunto, flores brancas, bonitas ao lado da cerca, não tem cheiro e sofrem preconceito porque são muito comuns em cemitérios, mas prefiro-as a coroas de flores de plástico que virou mania das pessoas colocarem sobre os caixões e as covas nos Finados. Se as papoulas não amenizam a dor, não será o plástico que irá aliviar o caminho do morto pelos umbrais do desconhecido. Morto pobre não tem escolha, assim como na vida não teve muita oportunidade, na morte lhe dão duas, as Papoulas de Defunto ou as flores de plástico.

Estamos nas franjas da Caatinga, bioma único no mundo, mais precisamente no agreste paraibano, andando mais para dentro o tempo pega fogo nas terras do sertão, voltando para frente são as terras do brejo. O clima ameno este ano em pleno novembro nos faz à noite sentir frio. Estamos na Cachoeira dos Lunas, como as duas fazendas vizinhas, todas Cachoeira, há muito o que admirar, só não há cachoeiras, açudes e rios secos é o que se ver. Apesar das chuvas terem caída com abundância este ano não foram suficientes, depois de tantos anos de seca, para encherem os rios. Há quem diga que eles não encherão mais, o que seria uma praga, diante do desmatamento, do desvio da água para as propriedades e o represamento em barragens para levar água para as cidades, é possível mesmo que não tenhamos mais a oportunidade de ver a beleza da queda das cacheiras que deram nome as fazendas. 

Meu primo Luna reclama de uma dor no dedo, pressupõe que seja uma espinha, mas a professora Alessandra que esta de visita diagnostica bicho de pé, ele lembra que havia estado uma semana antes em Jericoacoara,  no Ceará, toda a semana andando descalço, certamente havia sido lá que pegara. 

A professora fez a assepsia no pé do primo, colocou uma luva e com uma agulha limpa no álcool, tirou o bicho do seu pé. E eu me lembrei de que quando criança voltava das férias dessas fazendas e sítios, chegava em casa com os pés cheios de bicho e minha mãe tirava todos com espinho de laranjeira. A assepsia era passar o espinho em sua saia, lavar nossos pés e estávamos prontos para a pequena cirurgia, hoje condenada pelos médicos. Bons tempos em que não tínhamos medo de bichos de pé tirados com espinhos de laranjeira. A consciência nos traz o medo, o maior hoje, nas fazendas, é da bandidagem, dos assaltantes de moto, os fazendeiros estão com medo do bicho homem.


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