Fui testemunha
ocular do trabalho de Jorge Selarón, artista chileno, na criação de sua
principal obra. Minha editora funcionava na mesma rua, Joaquim Silva, por isso
acompanhei toda sua criação. No início quando o via colocando azulejos
coloridos no pé da velha escadaria que liga os bairros da Lapa e Santa Teresa,
parecia uma alma boa somente, fazendo o trabalho que a prefeitura não fazia,
mas sua alma era muito maior.
Não demoramos
para entender o que ele planejava, a medida que seu trabalho subia, degrau a
degrau, rumo a Santa Teresa. Fez tudo com recursos próprios e com ajuda da
vizinhança, depois dos turistas estrangeiros que alimentaram sua obra lhe
enviando azulejos de várias partes do mundo.
Não demorou para
a escadaria se tornar conhecida no Brasil e no exterior. Ao passar hoje pela
manhã na Joaquim Silva a vi completamente lotada de turistas estrangeiros e
brasileiros, difícil mesmo de se subir e até de admirá-la de baixo, tal era o número
de visitantes.
Numa manhã de janeiro
2013, ao chegar à rua, senti o clima de tragédia, Selarón estava morto, seu
corpo foi encontrado queimado na escadaria em frente a sua casa, pelo que
parece, mais um assassinato que entrou para a estatística dos crimes não
solucionados.
Ele era chileno
e sempre será, chegou ao Brasil adulto, mas sua arte ganhou o mundo a
partir da escadaria que agora é mais sua que nossa, e sempre estará ligado a
nós, ao Rio de Janeiro, a Lapa, porque sua arte foi feita para ser admirada, usada,
pisada, como ponto de encontro, não vai servir a nenhum marchand, a nenhuma galeria para ganhar milhões, sua arte é
pública, popular, serve somente para embelezar aquele pedaço do Rio de Janeiro,
já tão bonito pela natureza, mas que os homens públicos costumam enfear.
Esse é o
espírito do artista, a grandiosidade da arte, independente do que ele pensa.
Lamento quando vejo pessoas misturando as posições políticas de artistas como
Caetano Velosos e Chico Buarque, por exemplo, porque desde os anos 60 eles são alguns
dos nossos melhores produtos de exportação, o Brasil é reconhecido através deles.
Viva a arte! Viva os artistas! Viva 2018, que nos traga boas notícias!
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