Aconteceu nesse sábado o encontro do pessoal do ex-Grupo de
Teatro Sesc Tijuca, ao contrário das outras, dessa vez fechamos uma casa para
nós. Outra novidade foi o depoimento em vídeo de amigos espalhados pelo Brasil
e pelo mundo, da Paraíba Sheila Martins, do Paraná Rodolfo e Dego, de Londres
Tetê Andrade, da Espanha Rosana Barra, de Rio Claro Ivan e Daliê e Alex Falcão
da Noruega, participaram da confraternização que vem crescendo a cada encontro,
mesmo que virtualmente.
Abraçamo-nos, dançamos, cantamos e rimos muito com velhas e
novas histórias. Mas peço licença aos que compareceram para destacar a presença
de Didi de Aquino que nos propiciou as melhores gargalhadas da noite. Aqui vai sua
história:
A família veio da Paraíba e fixou-se na Nova Holanda, Complexo da
Maré, onde ele se criou. Apareceu no grupo em 1979, conheceu Kátia Destri, casaram
e tiveram uma filha, Joyce, que se formou em letras, é tradutora e vive na
Espanha. Moraram muitos anos na Tijuca, depois se separaram e Didi voltou pra
morar na Nova Holanda onde tem um bar, numa rua que é divisa de duas facções
criminosas que dominam a região, a calçada de um lado é do Comando Vermelho e a
do outro do Terceiro Comando. Disse ele que em agosto ao comemorar seu
aniversário das 4 da tarde às 4 da manhã aconteceram dois confrontos com muitos
tiros, duas brigas e estouro de bombas jogadas pelos dois lados, mas a festa
não parou, davam uma trégua somente. Parece estranho se viver num lugar assim,
mas diz ele que ali ele não é o amigo, mas o próprio rei, e lembrou Vou-me Embora pra Pasárgada, de Manuel
Bandeira, para esclarecer. Não participa de nenhuma facção, mas tem moral para
andar nos dois territórios.
Por muitos anos foi responsável pelo teatro na Lona Cultural da
Maré, onde produziu e para onde levou outras companhias, eu mesmo levei um dos
meus espetáculos. Há uns 10 anos montou um de meus textos e me convidou para
dar uma oficina. Fui num domingo, cheguei ao seu bar e ele não estava, mas vi duas
ou três pessoas entrarem, pegarem cerveja e saírem. Quando ele apareceu eu
denunciei os infratores, ao que ele me respondeu: “é assim mesmo, eu não vou
ficar aqui tomando conta de bêbado, eles entram, pegam o que querem e depois
me pagam.”
É assim ainda hoje, o bar fica aberto o dia todo, enquanto ele sai
para resolver suas coisas. Achei aquilo muito civilizado, só noutro lugar, mais
tarde, vi coisa parecida, no Centro de Letras e Artes da UNIRIO, na Urca, os
estudantes levam coisas para vender e deixam sobre uma mureta, a gente
pega o que quer e deixa a grana. Aquilo na Nova Holanda era mais que isso.
Demonstrava que mesmo o povo mais humilde se comporta com muita civilidade
quando é tratado como gente. Coisa inconcebível na Assembleia Legislativa e no palácio
do governo, a ver o que essas casas fizeram com o povo do Rio de Janeiro.
Fiquei muito feliz em reencontrá-lo porque ele foi da primeira formação do
Grupo.
Nossa
noite foi animada como sempre. Histórias, música, risos, dança, fotos e muitos
abraços, na certeza que outros animados encontros virão. Uma boa forma de
terminar este ano tão difícil para o país.
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