Todo fim de ano nos vemos impelidos a fazer um balanço dos últimos
doze meses, na esperança de que o próximo ano seja melhor, é natural. Nesse
jogo de perdas e ganhos que enfrentamos todo ano, algumas pessoas, tomara que
não seja a maioria, fazem a conta sempre pelo lado material, quanto ganhei e
quanto perdi. Quando a perda emocional é muito grande conseguimos
contabilizá-la, mas geralmente não levamos em consideração a não ser as coisas
materiais, mesmo as menores.
Aliás, nessa questão entre a matéria e o espírito, sempre achei estranho
as pessoas tratarem a educação de forma a dizerem: “estude para ter um bom
emprego!”, e nunca: “estude para ser uma pessoa melhor, mais solidária”. Isso
faz toda a diferença na educação de uma pessoa. É o que diferencia um bom médico
de um mau, um bom engenheiro de um mau, um bom pastor de um mau líder
espiritual, não importa o quanto cada um tenha estudado.
Nesse sentido a história de Jesus e seus ensinamentos têm muito a
nos ensinar. A maior revolução, a grande mudança ocorrida na humanidade foi
aquela protagonizada por Jesus há dois mil anos, o resto foi marolinha,
exatamente porque trataram de coisas materiais.
Escuto pessoas compararem Karl Marx com Jesus, como se os dois
tivessem falado dos pobres e da pobreza de forma semelhante, o que é um grande
erro. Eu mesmo incorri nesse equivoco quando escrevi O Homem de Nazaré, minha adaptação da A Paixão de Cristo, a partir da Teologia da Libertação, porque
naquele momento ainda vivíamos sob o peso da ditadura militar e eu a influência
do marxismo. Não que eu renegue o texto porque tudo está lá, mas nasceu em um
contexto especifico. Porque compreendi depois que Jesus trata o ser
humano como indivíduo, enquanto Marx só consegue vê-lo numa relação
social, dentro de uma relação de forças antagônicas, de luta de classes, isto
é, como força econômica. É por isso que à medida que o tempo passa o
cristianismo vai crescendo e se reinventando, enquanto o marxismo definha,
apesar de também se reinventar, sem dar conta de suas promessas.
Essas duas forças, mesmo que confusamente misturadas, interpostas,
manipuladas, usurpadas, entrelaçadas, estarão em confronto no próximo ano entre
nós, na batalha por nossas consciências, na luta pelo poder. Torço para que tenhamos
o discernimento de escolher o melhor caminho, ou o menos ruim, para seguirmos
com nossa caminhada. Não haverá presente melhor para o próximo Natal do que
perceber que o Cristo, que nos renova e nos fortalece, seja mais uma vez
vitorioso, mesmo sabendo que não será a última batalha.
Feliz Natal pra todos!
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