A estreia de Fernanda Torres
na literatura foi uma das mais gratas novidades dos últimos anos, ela tem a
capacidade de nos espantar com seus personagens cheios de vida, mas que seguem
inexoravelmente para suas decadências de forma melancólica, trágica, como a
dizer que a vida é um mar de rosas, mas por pouco, aproveite enquanto é tempo.
Foi assim com Fim, seu livro de estreia, narrativa
sobre um grupo de amigos, onde humor e tristeza se misturam numa cidade, Rio de
Janeiro, ensolarada, suja e hedonista. É também em seu novo livro, A glória e seu cortejo de horrores,
título dado pela mãe, dona Fernanda, como ela salienta.
Dessa vez ela não narra
apenas à trajetória de um homem, mas, através dele, faz a crônica de uma
geração, das utopias socialistas, ao desbunde hippie, do amadorismo teatral, ao
experimentalismo, até as glórias das novelas de maior audiência. Em sua irônica
narrativa não há meias palavras, desculpas, perdão, apesar de certa compaixão.
Seu personagem, Mario
Cardoso, foi um jovem bonito de um metro e oitenta, que enveredou pelo teatro
como a maioria de nossos atores, especialmente na década de sessenta, sem
preparo artístico, que aos trancos e barrancos aprende sobre a arte e a vida. Graças
ao physique du rôle e alguma sorte,
consegue entrar no elenco do musical Hair,
como coadjuvante, no emblemático
Teatro Ipanema dos Anos 60 e 70, e depois em Hoje é dia de rock, mas numa montagem de Tio Vânia, de Thecovi, pelas
mãos de um experiente diretor, se revela
um grande ator, e dali para a glória nos palcos, cinema e na TV, até o declínio quando decide encenar uma
versão de Rei Lear e as coisas não
saem exatamente como esperava.
A Fernanda fala do ambiente
que conhece bem, mas seu livro é mais que isso. Ela é uma atriz de muito
talento, desde jovem tem nos brindado com personagens impagáveis, e agora se
revela não só uma escritora de talento, mas de uma consciência existencial que
permite impregnar seus personagens de uma profundidade comovente.
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