A notícia da morte do jornalista Pedro Porfírio, me fez fazer
uma viagem ao tempo que convivi com ele diariamente na Rua Lauro Muller. Fui assistente de direção do Luiz Mendonça no infantil
“Faça do Coelho, o Rei”, de sua autoria, depois fiquei sendo uma espécie de
secretário, ajudando-o na produção da assessoria de imprensa que fazia
para as companhias teatrais. Depois, quando ele foi diretor da Central Bloch de
Fotonovelas, me levou para lá, onde
escrevi cerca de sessenta argumentos e roteiros.
O momento dramático de nossas vidas aconteceu em 1978
quando dirigi sua peça “O Belo Burguês”. Ele vinha do sucesso de “O Bom
Burguês” que havia feito pouco antes com direção de Luiz Mendonça, peça
indicada entre os cinco melhores espetáculos do ano, e queria repetir a
performance. No elenco estavam Maria Zilda Bethlem, Dirceu Rabelo, Breno Bonin
e uma atriz que morreu jovem, Elisa, só me lembro do primeiro nome, não sei
onde anda o programa que guardei por muitos anos. Além do stress natural de uma
produção que tratava de temas agudos para a época, convivíamos com a censura da
ditadura militar, uma espada voltada permanentemente para nossas cabeças. Tudo
pronto para a estreia no Teatro Nacional de Comédia, atual Glauce Rocha, havia muita
ansiedade porque até aquele momento não tínhamos a resposta da liberação da
censura. Foi exatamente o que ela não nos deu, dois dias antes da estreia a
peça foi proibida. Jamais saberemos se aquela montagem seria um sucesso, ou um
fracasso, mas sempre será uma frustração por não termos tido a oportunidade de
apresentar para o público, quem afinal deveria julgar. Essa é uma das questões
graves das ditaduras, das intervenções militares, que hoje tantos desejam que
volte, elas não permitem nem que se conteste suas ações, nem a expressão de
nossas individualidades.
Meu filho Henrique estava para nascer e Porfírio escreveu
uma crônica pungente para o jornal onde trabalhava exatamente sobre isso,
perguntava sobre que futuro aquela criança que estava para nascer poderia
esperar.
Sofremos, mas não choramos muito o leite derramado,
precisávamos seguir com nossas vidas. Numa manhã fomos a uma feira livre, quando
ao passar por uma banca falei que nunca havia comido morango, prontamente ele
comprou uma caixa para experimentarmos, porque ele também não. Ficamos
decepcionados porque esperávamos que a fruta fosse mais doce.
Depois daquele tempo nos afastamos completamente, coisas da
vida, raramente nos encontrávamos, mas quando isso ocorria era com carinho.
Foi um defensor da democracia, sofreu os horrores da tortura durante o
regime militar, que registrou em seu livro "Confissões de um
inconformista". Foi jornalista e dramaturgo, trabalhou em diversos jornais,
revistas e para o rádio, foi durante várias legislaturas vereador do Rio de
Janeiro. Saudade!
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