Sexta-feira passada,
dia 24, faleceu João das Neves, aos 84 anos, em Belo Horizonte onde morava. Um
dos mais importantes realizadores do teatro brasileiro, cofundador do
emblemático Grupo Opinião, ao lado de Ferreira Gullar, Vianinha, Paulo Pontes e
outros nomes fundamentais do teatro brasileiro, núcleo de resistência cultural à
ditadura militar a partir dos nos anos 60, que influenciou o teatro e a música
no período.
Seu legado para as artes
brasileiras, nos mais de 60 anos de atuação na cena teatral como dramaturgo,
diretor, ator e escritor é enorme. Recebeu importantes prêmios de reconhecimento
como a 29ª Medalha Chico Mendes de Resistência, em 2017, e homenagens na Universidade
Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em 2015, e o Itaú Cultural, em São
Paulo, no mesmo ano, além dos diversos prêmios com que foi contemplado, como o
Molière (vários), Bienal Internacional de São Paulo, APCA, Golfinho de Ouro e
Quadrienal de Praga.
João das Neves manteve-se
em atividade teatral de forma permanente e inovadora, desde os tempos dos
Centros Populares de Cultura (CPC) e do Grupo Opinião. A profundidade de sua
obra traz elementos marginais da cultura brasileira como identidades da cultura
afro-brasileira, da cultura indígena, da mulher, do trabalhador, do homem do
sertão, da lavadeira, do sambista, dos homossexuais, das travestis, e mais
recentemente das novas famílias, tendo explorado também espaços não
convencionais, como parques, florestas, espaços urbanos habitados ou
abandonados, para criar um teatro que se libertou da caixa cênica.
Apresentou sua primeira
ruptura com o espaço cênico tradicional quando quebrou o teatro por dentro ao
criar para o espetáculo “O Ultimo Carro”, uma arena invertida em que a ação se
desenvolvia em volta do público que era deslocado para o centro da arena e ficava
inserido na ação. Em cartaz por cerca de dois anos, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, “O Último Carro” foi assistido por mais de 200 mil pessoas, tendo
rendido inúmeros prêmios a João das Neves, como o Prêmio “Arte não catalogada”
na 14ª Bienal de São Paulo.
Conhecedor da cultura
brasileira viajou e residiu em diversos estados, trazendo sempre elementos das
culturas do interior do país para sua dramaturgia. No Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador, Rio Branco e Minas Gerais, lugares onde residiu, João das Neves deixou
sua marca como encenador e pensador do teatro contemporâneo, afora os diversos
lugares por onde transitou com mais frequência, a exemplo do México e da
Alemanha.
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