A se verificar pelo atendimento na emergência do hospital Getúlio
Vargas, no Rio de Janeiro, vale muito pouco.
Os filhos chegaram ao hospital com a mãe agonizando, as médicas de
plantão, uma sentada mexendo no celular como nos revelou as imagens gravadas
pelo filho da doente, esperava um papel de encaminhamento para atender. Não
estava mexendo no WhatsApp, diz a médica, mas lendo sobre doenças. A senhora
não recebeu atendimento e os filhos foram obrigados a levarem-na para uma UPA
onde, depois de atendida, não resistiu, vindo há falecer poucas horas depois.
Diante do absurdo da situação e do desrespeito não só com aquela
família, mas com todos nós que pagamos os salários daqueles profissionais que
estavam no plantão, nos sentimos tão chocados e agredidos como os membros
daquela família. Mas aí vêm as perguntas:
Por que aquela senhora não foi atendida? Por que uma média numa
emergência precisa esperar atrás de uma mesa um papel que encaminhe os doentes?
O que essa médica aprendeu na faculdade de medicina? Como num hospital os profissionais
podem ficar tão blasé diante do desespero de um filho que pede socorro para a
mãe? Por que nas emergências de nossos hospitais encontramos os profissionais
mais despreparados e descompromissados com a vida humana? Quem será
responsabilizado pelo não atendimento daquela senhora? A médica negligente que
mexia no celular? O chefe do plantão? O diretor do hospital? O secretário de
saúde? O governador? Alguém precisa ser responsabilizado pela morte daquela
senhora.
O pior é que sabemos que isso não foi um caso isolado, que é
prática corrente em todo o país. O descompromisso com a vida, o mau
gerenciamento dos recursos públicos, a corrupção, ocorrem de maneira geral
neste país onde a cidadania é desconhecida, onde o povo pouco reivindica seus
direitos. Quando ocorre a exposição do mau atendimento como agora, as
autoridades correm para dar uma resposta à sociedade, mas basta esfriar o
escândalo que tudo se esquece, e a rotina de irresponsabilidade volta ao
normal.
Sabemos que nos países onde há cidadania, nas emergências dos
hospitais, estão os melhores médicos, as equipes mais bem preparadas, porque os
dez primeiros minutos de atendimento são fundamentais para o sucesso do socorro
aos pacientes, por isso os melhores médicos.
Em nosso país se dá o contrario, pelo que temos notícia quem
primeiro atende aos doentes é o guarda que toma conta da portaria, depois a
atendente que fará a ficha para encaminhar ao médico, isto é, aos residentes,
que ainda estão aprendendo. Mas esse descaso não ocorre apenas nos hospitais.
"Triste Bahia, oh quão dessemelhante..." Já lamentava o poeta Gregório de
Matos na Bahia/Brasil do Século XVII, de lá pra cá nada mudou.
Triste Brasil, oh quão dessemelhante!
Triste Brasil, oh quão dessemelhante!
Comentários
Postar um comentário