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FOGO, HISTÓRIA E SOCIEDADE



Visita a Notre-Dame em outubro de 1987.
Foi triste ver nesta segunda o fogo lambendo a Notre-Dame de Paris, como foi muito triste ver o fogo consumindo o nosso Museu Nacional há sete meses. Guardadas as proporções é inevitável a comparação para nós, entre os 850 anos da dama francesa e os 200 e poucos anos do nosso museu, mas assim como no fogo da Notre-Dame, diversas relíquias de importância histórica para as Américas e mundial também foram consumidas pelo fogo no Museu Histórico.

A comoção nacional foi muito dolorida para nós, e é agora para os parisienses, os europeus e para o mundo que perde parte desse patrimônio inestimável, mesmo que o prédio seja todo restaurado, porque algumas das peças consumidas no incêndio de agora, como no nosso, jamais serão reconstruídas, estão perdidas para sempre. As novas gerações só poderão vê-las através de fotos.  

Mas aqui terminam as comparações. Enquanto os objetos recuperados na Notre-Dame serão levados para o Museu do Louvre, possivelmente o museu mais seguro e mais bem guardado do mundo, os objetos salvos do fogo do nosso museu foram colocados numa sala da biblioteca da UFRJ. A mídia noticia que esta está como estava o museu, largada à própria sorte, com gambiarras e fios espalhados no ambiente.

O descaso com a segurança ambiental é comum nos museus e bibliotecas em todo o país, sérios candidatos a novas tragédias. Mas isso é pouco, porque o governo Bolsonaro, em sua cruzada contra a cultura, vai reduzir o teto da Lei Rouanet de 60 milhões, para um milhão. Grande parte do dinheiro gasto com as restaurações e aquisições para os nossos museus e bibliotecas vêm através da Lei Rouanet.

Não que eu ache que a Lei é perfeita, que não mereça ajustes e correções, mas pelo que pretende o governo demonstra que a cultura para nossos governantes não tem nenhum valor, qualquer coisa serve. Não leva em conta os milhares de empregos diretos e indiretos que acabarão com essa redução, assim como as estruturas e seguimentos de produção, especialmente as do cinema e dos grandes musicais, que serão dramaticamente afetados. Mas é o que temos para hoje.

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