Antunes
Filho encantou-se, porque pessoas como ele não morrem. Foi para o mundo dos
gênios, dos monstros sagrados e das fadas. O olimpo dos que não vieram ao mundo
a passeio. Sempre foi um grande diretor, mas depois de Macunaíma elevou seu nome e o Teatro Brasileiro a um patamar até
então não alcançado. Assisti ao espetáculo três vezes, duas aqui no Rio de
Janeiro e uma em João Pessoa, tive a sorte de estar na Paraíba de férias quando
a peça passou por lá.
Após
cada sessão sempre me perguntei: como é que ele chegou a essas soluções. Como é
que a partir de um palco nu, isto é, limpo de objetos, ele consegue em tão
pouco tempo enchê-lo e transformá-lo diante de nossos olhos como um mágico que
tira o coelho da cartola sem deixar rastros. Foram momentos de encanto total.
Primeiro,
o palco ganhou todas as dimensões possíveis, aquilo que costumávamos ver no
chão, com ele podia acontecer em qualquer dimensão do palco italiano. Porque quebrar a quarta
parede para descobrir outras dimensões do espaço cênico já haviam feito. Eu assisti
ao Balcão, do Jean Genet, direção do Victor Garcia, no Teatro Ruth Escobar, em
São Paulo. Uma porrada estética, uma viagem cênica inusitada, mas para isso ele
quebrou o teatro, transformou fisicamente o espaço cênico. Fez o que ninguém
nunca tinha feito.
É
aí que entra a genialidade do Antunes, ele mostrou que podia fazer a mesma
coisa sem quebrar o teatro, dentro dos limes do palco italiano, que a partir de
então passou a ser para nós outro espaço, permitindo todas as fantasias e toda
criatividade possível. Tempo e espaço definitivamente misturados.
O
que ele fez com o espaço, fez com a interpretação. Natural, porque as coisas
não podiam ser diferentes, a interpretação usual não cabia naquela proposta
cênica. Assim ele foi revelando para o Brasil atores maravilhosos, gente que
passou a tratar o teatro e a interpretação como nunca se viu no país.
Antunes
se foi aos 89 anos deixando um legado extraordinário para todos nós, não só do
teatro, mas de todas as artes, porque seu teatro transcendeu toda e qualquer
fronteira.
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