Como combate a pandemia que nos aflige temos visto o embate
entre os que defendem o isolamento horizontal, com todos presos em casa, e o
vertical, quando ficariam presos somente os idosos e os fragilizados por alguma
doença. Os que defendem a segunda opção dizem que não se deve prejudicar a
economia por sete mil mortos, número que consideram que perderemos caso afrouxemos
a quarentena. Será que eles se incluem, e seus familiares, entre os mortos, ou
só pensam nos mortos sendo de outras famílias, de preferência longe?
Acho que acreditam na segunda opção, e são burros por isso,
certamente não leem os jornais, nem veem o que passam na televisão. Os números
apontados pelos órgãos que estudam essa pandemia de forma séria e criteriosa
são estarrecedores. Vão dos poucos milhares a mais do milhão, caso não seja
feito o isolamento adequado das pessoas. Não haverá economia, nem sistema de
saúde, que aguente isso sem se arrebentar.
Mas tem uma coisa mais grave, se pessoas aparecerem morrendo
de fome porque a economia foi destroçada, certamente aparecerão outras para
socorrê-las, para dividir o pouco que têm com os miseráveis. E mesmo se não
tiverem, morrerão juntos, abraçados, dividindo suas sortes. Com o COVID-19 é
diferente, as pessoas morrerão sozinhas, largadas, afogadas no seco, como já
definem essa morte, porque ninguém chegará perto dos infectados. Isso é o que
já está ocorrendo em alguns lugares.
Morreu esta semana com suspeita de corona vírus, num hospital
particular de classe média alta, na Barra da Tijuca, o cônsul Jorge José Gonzales,
de 60 anos. Segundo os áudios que mandou para a família, ficou 48 horas sujo e abandonado
na UTI, implorou 24 horas por um copo d’água, porque os médicos e enfermeiros
tinham medo de chegar perto dele. Imaginem milhares de infectados nas portas
abarrotadas dos hospitais, das emergências? Será o inferno de Dante diante de
nossos olhos.
Os senhores, e as senhoras, que querem salvar a economia
relaxando a quarentena horizontal, depois que os corpos começarem a ser
empilhados nas esquinas, não terão nem salvado a economia, nem os milhares de
vidas que poderiam ter salvado com as medidas mais restritivas.
O bom senso (e a ciência) pode muitas vezes nos parecer
estranho, mas é ele que nos salva da arrogância e da estupidez.
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