Hoje acordamos com a notícia alvissareira do afastamento do
governador Witzel, prisão do presidente de seu partido, mais algumas prisões e
apreensões envolvendo a cúpula do governo, e prisão de um desembargador, todos
envolvidos de corrupção nos gastos emergenciais da pandemia. Mas isso é muito
pouco diante de nosso desalento, porque já aguardamos a hora em que todos
estarão livres e faqueiros para delinquir novamente.
Na primeira instância a lei prende os pobres, e solta os
traficantes, enquanto os desvalidos morrem de balas perdidas nas ruas e até
dentro de casa, pois não há lugar seguro nesta cidade. Os bandidos perigosos,
mas endinheirados, quando são presos, saem sorrindo da cadeia com o alvará de
soltura na mão, não importa os crimes quem tenham cometido.
No andar de cima, bem lá em cima, o Supremo se encarrega de
soltar os bandidos do colarinho branco, quando prendem. Para esses parecia que
o tempo havia chegado, mas foi nosso engano. Eles continuam protegidos, demonstrando
que neste país bandido é quem rouba pouco.
Agora a manobra é para soltar todos os corruptos da Lava Jato.
Nessa estão juntos o governo federal, a PGR e o Supremo, e a jogada é levar o
Toffoli para a segunda turma, aí ficarão três votos contra dois, e a Lava Jato
vai para o brejo de vez. Vão liberar todos os condenados que nos últimos anos
vimos, pela primeira vez na história, sentir o gosto amargo da lei, fazendo-nos
acreditar que a lei era para todos. O passo seguinte, ou concomitante, será
evitar que os corruptos do momento percam seus cargos, ou cheguem à prisão.
No meio ficamos nós, espremidos fisicamente pelos bandidos
que assolam as ruas e oprimem as comunidades, e emocionalmente pela injuria, e
falta de perspectiva diante da justiça guiada pelo dinheiro e por Interesses
espúrios.
Na Grécia antiga o filósofo Diógenes
de Sinope, também conhecido como o Cínico,
tornou-se mendigo e
habitava as ruas de Atenas fazendo da pobreza extrema uma bandeira de luta, e
com uma lamparina na mão durante o dia procurava um homem honesto. Ele via que
a virtude era mais bem revelada na ação que na teoria,
sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e
valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta. O que pensaria
Diógenes se chegasse por aqui nestes dias?
Assolados por essa pandemia, somos acharcados por governadores e
prefeitos corruptos, por milicianos e bandidos do crime organizado, com a
consciência de que se algum desses chegar a ser preso logo terá o alvará de
soltura expedido por aqueles que deveriam proteger a sociedade, e nos sentimos
mal. Vemos juízes e governantes empurrando nossa história para a incivilidade,
a brutalidade e a desigualdade, que tem sido nossa realidade permanente, sem
salvação.
Nosso destino cruel e, pelo que parece inescapável, nos
condena para sempre a um país de terceiro, ou quarto mundo, atolados na
ignorância, na desigualdade social e no autoritarismo de sempre.
E vamos nós seguindo os andores ideológicos e os déspotas de
plantão, numa procissão onde cegos guiam cegos, para o abismo social da nossa
desilusão e incoerência.
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