O segundo episódio da série Amor e Sorte, da TV Globo, ficou a desejar. Não em relação ao casal de atores, Lázaro Ramos e Taís Araújo, já reconhecidos pelo talento, mas a dramaturgia de pouco humor, e sem densidade dramática, deixou os atores a mercê de suas performances apenas, e isso não salvou o episódio.
Ao contrário do capítulo de estreia com Fernanda Montenegro (Gilda) e Fernanda Torres (Lúcia), mãe e filha na vida e na ficção, onde o humor e a densidade dramática caminharam lado a lado dando suporte as performances das atrizes. O de ontem, 15 de setembro, apostou num tema político, mas carente de simpatia, que apesar de atual já parece remoído, passado, mesmo que continuemos vivendo nesse tumultuado mundo político que temos, e das mazelas da pandemia, que somadas as de sempre deixa o quadro ainda mais dramático.
Luxo mesmo foi ver o embate das duas Fernandas nessa temporada de tantas reprises, até no noticiário, pois o que vemos diariamente nos escândalos de corrupção é o que não vale a pena ver de novo, mas é o que nossos representantes gostam de nos apresentar: corrupção, autoritarismo, incompetência e descalabro diante das filas inexplicáveis do INSS, da Caixa Econômica, dos hospitais e das desculpas de suas excelências.
Mas não é disso que quero falar, quero lembrar o prazer de ter assistido as Fernandas, sobretudo a mãe, nos seus 90 anos de vida e quase tanto de arte, anos que estão todos ali, num simples gesto de fumar e olhar para a fumaça, na irritação diante das restrições da pandemia, as duas impecáveis, exemplares, no humor contido e na extensão dramática, no embate entre a preservação da vida e os pequenos prazeres, mostrando o quanto somos pequenos, vulneráveis, mas ainda assim grandes em generosidade e empatia.
Criada por Jorge Furtado, a série foi um achado e demonstra que não precisamos de grandes produções para nos deleitar com uma boa história. Essa forma de produção enxuta, pequena, mesmo depois do confinamento, poderá resultar em momentos tão bonitos e delicados como foram os que assistimos entre as Fernandas.
Aos próximos capítulos!
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