Há um mês recebi uma ligação que me deixou com as orelhas em pé como cachorro espantado, o cara me fazia perguntas estranhas, coisas que eu sabia que tinha vivido e outras que eu nem lembrava mais. Mas enquanto ele falava sem se identificar a voz foi ganhando contornos e recompondo uma história de 40 anos. Gritei feliz: sei quem você é! Você era o mais branco da turma! Porque eu já sabia com quem falava, mas não lembrava o nome. Ali ele se revelou, era Serginho, Serginho Pimentel. Começamos a rir e emendamos num papo de mais de uma hora, coisa inusitada para mim que sempre sou breve ao telefone.
Lembramo-nos do João, com quem ele tem contato permanente, e nos perguntamos pelos outros da turma: Léo, Ruth, Chico e sua irmã...1978, 79, 80, SESC da Tijuca, João do Vale, ditadura militar, Geração 477, e os companheiros da arte, quanta água passou por esse rio. A memória vai me trazendo as fisionomias, mas os nomes de tantos não.
Serginho é profissional de áudio visual em Brasília e criou um programa de rádio na web: MAR ABERTO (https://youtu.be/ZjnKC43YA5U), num formato inusitado que tem tudo para dar certo, alia o melhor de nossa música a comportamento e direitos humanos. Semana retrasada participei falando de coisas que vi no teatro e que me encheram a alma.
O programa é novo e pelo que demonstra Serginho não está preocupado com a audiência, só quer ser feliz, fala do que gosta e do que nos engrandece como brasileiros, e isso num momento conturbado, estressado, onde todos só pensam em lacrar, não é pouca coisa. Vida longa ao programa.
O João se tornou uma espécie de Robin Hood da advocacia, pegando dinheiro dos ricos para defender os pobres, mas ao contrário do famoso bandoleiro, ele faz sem violência. Quando vejo um pobre na cadeia gritando por sua inocência, como aquele jovem músico de São Gonçalo, que foi preso injustamente há três semanas, recebendo ajuda de advogados que se interessam pela causa, penso em João Tancredo.
Bacana é ver que os sonhos de juventude que eles tinham de viver num país justo, digno, com oportunidade para todos, permanecem intactos, e eles procuram na medida do possível transformar em realidade. Bom agora seria receber notícias de Léo, Ruth, Chico, sua irmã...
José maria rodrigues, ou no naquele tempo, 1979, Zé Maria,,,, e foi assim que muito “ cabreiro” me apresentei no Sesc da Tijuca para participar de um grupo de teatro, entre nós,, eu João , Léo Ruth e outros/outras, comentávamos que esse grupo de teatro era uma forma de localizar e detonar cabeças que eram contra à ditadura militar.... Ressabiados e ressabiadas resolvemos arriscar para ver a “cor do samba”. E lá vem um barbudinho, calça Jeans, uma blusa Hering, uma bolsa de alças e uma sandália “Franciscana” .
ResponderExcluirNa primeira aula demonstrou inteligência, interesse e uma capacidade fora de comum em se importar com cada aluno e aluna, conversando, tirando dúvida e após 03 meses já não tínhamos mais duvidas,,, o Zé Maria jamais faltou um ensaio, nunca chegou atrasado e não tinha tempo ruim,, sábados domingos e feriados,, estava sempre como dizia o poeta, “olhos abertos ouvidos atentos e a cabeça no lugar”.... E fomos escolher o texto, um ou outro que andava ainda com o pé atrás, foi logo falando : “ Essa peça dele deve ser de coelhinho, papai Noel ou uma água com açúcar qualquer.. só pra constar”.. Daí vem o Zé Maria,, com aquela maneira peculiar, calmo , sereno e direto e fala : “Tem um autor que está estreando e gostaria de fazer a peça dele, uma peça densa e impar”, nesse momento o meu amigo que achava que vinha agua de açúcar e coelhinhos , virou para mim como quem dizia” Tá vendo,,, batata,,, é coelhinho”, mas o Zé Maria antes dele dar um outra piscada, falou o conteúdo da peça “ um pai que era ascensorista tem uma febre é passa a ser dotado de uma consciência política esclarecedora e ferina ,vai deixar um testamento para o filho : um peido, uma punheta e um canivete velho”,,, quando o Zé maria terminou de falar essa parte, mas ainda não tinha terminado tudo, o coelho entrou na toca, Papai Noel pegou as renas trenó e se mandou , água com açúcar virou suco de limão,,, E assim José Maria Rodrigues,, conquistou a todos do grupo com seriedade, trabalho , dedicação e entusiasmo,,, Zé Maria jamais fez teatro de conveniência, o salário dele já era certo, ele não ganhava por peça e/ou produção, o dele estava garantido,, mas ele nunca agiu assim,,, Durante um ano inteiro dedicação e responsabilidade,,,,, Após 42 anos que não sabia dele, há um mês fiquei sabendo e o procurei e tive um orgulho doido,,,, Esse é um ser humano que viveu de teatro da cultura de forma digna e surpreendente ,, tornando-se uma figura que todos e todas no mundo das artes ou fora , para se espelhar, homenagear e aprender com ele os caminhos da altivez, empatia dedicação e tenacidade.. Salve o Zé maria de 1979 e viva o Jose Maria Rodrigues de 2020
Serginho Pimentel (segundo o Zé “a voz que veio de longe”)
Você não sabe a alegria que me deu com seu aparecimento. Espero não nos largarmos mais.
ExcluirDelícia de história...
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