Conheci José Mauro de Vasconcelos uma noite no hotel em que estava hospedado em São Carlos-SP, quando estive na cidade para participar do Festival de Teatro em 1971, ou 1972, não lembro agora. Na meia hora em que estive com ele, certamente influenciado pela leitura de seus livros, fiquei com a impressão de estar diante de uma pessoa muito tranquila, quieta, mas o que vim descobrir depois foi exatamente o contrário.
Desde jovem ele foi muito inquieto, filho de família pobre nordestina, de origem indígena e portuguesa, ele nasceu em Bangu, bairro do Rio de Janeiro, em 26 de fevereiro de 1920. A família mudou-se em seguida para São Paulo, mas ele teve que deixar os pais ainda criança para viver com os tios em Natal, onde aprendeu a nadar no rio Potengi e se tornou um exímio nadador, ganhou vários campeonatos de natação. Nessa época, já gostava dos romances de Graciliano Ramos, Paulo Setúbal e José Lins do Rego.
Entrou na faculdade de medicina, ainda em Natal, mas abandonou o curso para se aventurar pelo mundo batalhando pela sobrevivência. Foi de carregador de bananas na fazenda Mazomba, perto de Itaguaí, no Estado do Rio, a garoto de programa, porque tinha porte atlético, bonito. Há uma estátua sua, do escultor Bruno Giorgi, no Monumento à Juventude, na antiga sede do Ministério da Educação. Foi garçom de boate, conseguiu uma bolsa de estudos na Espanha, mas não aguentou a vida acadêmica. Abandonou os estudos e preferiu correr pela Europa. A atividade mais importante que exerceu foi junto aos irmãos Villas-Bôas pelos rios da região do Araguaia, conhecendo o ambiente e lutando pelos povos indígenas.
Seus romances são provenientes do encontro entre a luta pela sobrevivência e o mundo mágico em que vivia, cheio de imaginação, que permitiu a poesia particular de Meu pé de laranja Lima e Rosinha minha canoa. Ainda foi ator de cinema e televisão, trabalhou nos filmes, Modelo 19, que lhe rendeu o prêmio Saci como melhor ator coadjuvante, Fronteiras do Inferno, Floradas na Serra, e Canto do Mar, do qual escreveu o roteiro. Em Na Garganta do Diabo, obteve o prêmio Governador do Estado como melhor ator, em A Ilha, conseguiu o prêmio de melhor ator pela Prefeitura, e em Mulheres & Milhões, foi laureado com o Saci de melhor ator do ano. Dos seus livros, Meu Pé de Laranja Lima, Vazante e Arara Vermelha foram filmados, assim como "Rua Descalça".
Lançou aos 22 anos seu primeiro livro, o romance Banana Brava, de 1942, onde reflete o mundo dos homens do garimpo. Em 1945 publica “Barro Branco”, seu primeiro sucesso de crítica. Mas seu primeiro grande sucesso veio com “Rosinha Minha Canoa” (1962). A obra foi utilizada no curso de Português na Sorbonne, em Paris. Mas foi em 1968, que publicou seu maior sucesso, “Meu Pé de Laranja Lima”, que se tornou um clássico da literatura brasileira. Ele se serve de sua experiência pessoal para retratar o choque sofrido na infância com as bruscas mudanças da vida. Foi escrito em apenas 45 dias. José Mauro foi ele próprio um grande personagem, que nos deixou em 24 de julho de 1984, aos 64 anos, em São Paulo.
Estou satisfeito por relembrar essa história, graças as pesquisas que estamos fazendo para a nova temporada do Taba Cultural, nosso podcast, que traz os poeta e escritores nascidos em fevereiro, e temos nos surpreendido com bonitas histórias como essa.
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