Há 38 anos, exatamente em 31 de março de 1983, estreamos no SESC da Tijuca, no Rio de Janeiro, a montagem original de O HOMEM DE NAZARÉ – A Via Sacra de Hoje, com mais de 80 integrantes no elenco, participantes de sete Grupos de Teatro do SESC, e uma equipe técnica e de apoio de cerca de 40 pessoas.
Havia escrito o texto em 1982 achando
que iriamos fazer um ou dois anos com nosso grupo da Tijuca e eu já estaria
muito feliz. Ocorre que levei a proposta para a reunião de técnicos que ocorreu
em novembro daquele ano, e nossa proposta virou a proposta de todos os grupos
para o ano seguinte. No Rio fizemos uma produção conjunta e direção coletiva envolvendo
grupos de sete unidades do SESC: Tijuca, Ramos, Niterói, Copacabana, Madureira,
São João de Meriti e Engenho de Dentro, e foram feitas montagens locais em
Friburgo e Três Rios.
Fizemos um lindo espetáculo na Tijuca,
usando os jardins do Centro de Atividades como cenário natural e apenas dois
palcos na parte de cima, o das cruzes e o do julgamento de Cristo. O espetáculo
trazia algumas inovações para os espetáculos do gênero, porque foi a intenção que
me motivou a escrever. Começava pela junção ao texto bíblico, de informações e
falas contemporâneas, e personagens atuais que se juntavam aos bíblicos, sem
que isso trouxesse estranhamento para os espectadores. Como os profetas
Operário, Mulher, Lavrador e Estudante, ao lado de João Batista. Jesus fala em automóvel
e autoestrada, e Maria compara a sua dor a dor das mães que perdem seus filhos
torturados nas prisões atuais. É bom lembrar que ainda estávamos saindo da
ditadura, e conhecendo os relatos de torturas contra os presos políticos,
inclusive num dos quarteis vizinho ao SESC na Tijuca. A proposta seguia com os figurinos
do saudoso Gilson Barbosa, que misturava o figurino bíblico a calça jeans,
chegando a sonoplastia que juntava Bach a Luiz Gonzaga.
O espetáculo ganhou a atenção da
crítica e de uma plateia mais exigente, e o público comum se deleitava seguindo
os atores pelas ruelas improvisadas nos jardins do SESC Tijuca, numa comunhão poucas
vezes verificada, como observado pelo crítico Macksen Luís, no Jornal do
Brasil.
Desde então o espetáculo nunca mais
saiu de cartaz, anualmente, às vezes em mais e uma cidade. Somente eu dirigi mais
de 20 edições, onze no SESC, sete em Macaé, e outras em Parnaíba-PI, Friburgo-RJ
e Cordeiro-RJ. O Texto é a base de mais de 50 diferentes montagens em diversas
cidades, e ainda no Rio de Janeiro, na Rocinha, projeto indicado ao Prêmio de
Cultura do Estado em 2013, e titulo de Patrimônio Imaterial da Cidade do Rio de
Janeiro em 2015, conferido pela Câmara Municipal.
Estiveram ao meu lado para o
sucesso desse espetáculo centenas de pessoas, nas diversas cidades, nominá-las
agora seria demais para o espaço que temos aqui. Mas gostaria de agradecer a
todas, do fundo de meu coração, com a certeza de ter não só conhecido pessoas,
mas feito amigos, que mesmo longe, trago com muito carinho em meu coração. E
peço licença a maioria para nomear algumas dessas pessoas que me ajudaram a seguir
com esse espetáculo por essas cidades: Thereza Maria César Teixeira (RJ), Gilson
Barbosa (em memória) Cil Corrêa (Friburgo) e Paulo Carvalho (em memória),
Ricardo Meirelles (Macaé), Aurélio Mesquita (RJ), Sidney Cruz (RJ), Altimar
Pimentel (em memória) e Rosenilda (PI).
O teatro era um encontro, um
trabalho, uma festa, a manifestação do melhor de nossas vidas. Não víamos a
hora passar, e o cansaço era seguido pelo relaxamento feliz do prazer de viver,
e do dever cumprido.
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