Apesar do drama político, econômico e social que o país vive, em especial no Rio de Janeiro, entregue aos corruptos e as milícias, devemos olhar para 2022 com esperança, mesmo que a nuvem da desesperança empalideça o horizonte. Este ano comemoramos dois marcos importantes para nossa história e nossa cultura, os 200 anos da Independência e os 100 anos da Semana de Arte Moderna, que revolucionou e moldou nossa identidade como nação.
A Semana de 22 sacolejou a arte, a música e a literatura, mas foi além, colocou nossa miscigenação na ordem do dia, misturou os contrários e subverteu a ordem das coisas, revelando para a nação e para o mundo uma face pródiga, moderna, auspiciosa, de gente grande.
As maiores cabeças do Brasil são protagonistas de 22, estiveram nas franjas do movimento, ou são filhas e netas da Semana. Como são os movimentos Bossa Nova, Cinema Novo e o Tropicalismo, momentos ímpares que nos representa e nos identifica no mundo.
Desses movimentos saíram os artistas e intelectuais mais significativos que levam nossa cultura para fora. De Heitor Vila Lobos a Caetano Veloso, passando por Tom Jobim e Emicida. De Mário de Andrade a João Ubaldo Ribeiro, passando por Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. De Anita Malfatti a Romero Britto, passando por Lygia Clark e Portinari. Nelson Rodrigues, Glauber Rocha, Antunes Filho, Ariano Suassuna, Nelson Pereira dos Santos, Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Monteiro Lobato...
Qualquer nação que tenha gerado uma plêiade como essa tem não só do que se orgulhar, mas de perceber sua força de transformação social. Assim somos nós. A força dessa criatividade demonstra (apesar de todos os entraves, de todo o atraso gerado pela má política, pela leniência da justiça, pela corrupção) que será capaz de gerar uma nova civilização, como queria Darcy Ribeiro.
Vivemos um ano decisivo, de comemorações e eleições, vamos fazer jus ao passado de lutas e criatividade, e forjemos a grande nação que almejamos ser. Não pedimos isso para depois de amanhã, mas é preciso que comecemos agora, se quisermos chegar lá.
Você pode dizer que em 1822
o povo mal ouviu falar da Independência do Brasil, que não participou das
discussões que levaram a ela, e povos mais marginalizados como os negros e
índios sequer tomaram conhecimento, e que o movimento da Semana de 22 foi feito
por uma classe média bem nascida e instruída, da mesma forma, sem a
participação popular.
Mas isso não impediu
que passando o tempo, o conjunto da sociedade tenha reconhecido a importância
da Independência para a gerência de nosso destino, e a Semana de 22 e seus
reflexos, determinante para nos reconhecermos como produtores de arte e
cultura, onde nos identificamos e aproximamos as classes, as culturas e as
etnias. Por isso a divisão ideológica é tão deletéria neste momento. É verdade
que existe mais de um Brasil dentro do Brasil, mas a vontade de ver nossos
problemas resolvidos é a mesma. A divisão só interessa aos de sempre, que
aproveitam a divisão para dominar.
A união em favor do
Brasil, da educação, da cultura, da saúde, do pleno emprego, parece impossível
neste momento. Será que vamos esperar sermos invadidos por outra nação para nos
juntarmos numa só voz? Somos estuprados diariamente pelo Centrão, pela
corrupção, pela justiça venal, pela fome, pelo desemprego..., o que será
preciso mais? Não custa sonhar, as transformações sociais começam como sonho,
utopia, até se transformarem em realidade.
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