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OLHA O COMETA!


 O filme do ano que passou é, sem dúvida, Não olhe para cima, que continuará dando o que falar em 2022. Com direção de Adam Mckay e elenco estelar encabeçado por Leonardo DiCaprio e Kate Dibiaski, dois astrônomos que descobrem um cometa em rota de colisão direta com a Terra. O elenco ainda traz entre outros excelentes atores a Meryl Streep como a presidente dos Estados Unidos, e Jonah Hill como seu filho e chefe de gabinete.

Com apenas seis meses até o cometa se chocar com a Terra, depois de ser desdenhado pela presidente e seu estafe, o casal de cientistas faz um tour pelos meios de comunicação tentando mostrar as pessoas o perigo que todos correm e como são as pessoas que as governa, e é aí que a comédia, ou a tragédia acontece, ao revelar um público alienado e indiferente, obcecado pelas mídias sociais, vivendo dentro de nichos de mercado, ou ideológicos, mostrando a face  chocantemente cômica do filme e de nossa realidade.  

Tenho lido críticas e comentários que reclamam do roteiro, apontado como fraco, superficial, por que toca em muitos pontos sem se aprofundar, mas sobre que aspectos esses críticos gostariam que o filme se aprofundasse? Por que na verdade o filme trata apenas de um tema, a nossa insanidade, o resto é perfumaria, e nesse sentido é exemplar.

Mostra nossa superficialidade, nossa pressa e nosso apego ao supérfluo, ao banal. Convém lembrar que em matéria de cinema e arte, ser simples, direto, com bom resultado, é o mais difícil.

Ele é profundo exatamente na nossa superficialidade, na nossa humanidade, nas diversas realidades que criamos para nos guiar, nos proteger e nos confortar, mesmo que sejam as mais estapafúrdias. Vai desde os negacionista que são contra a ciência, até os aficionados pelo último modelo de celular, do automóvel, ou da última novidade seja ela qual for, guiados por gurus do consumo. Nesse caso o essencial não é só invisível aos olhos, como observou o escritor Saint-Exupéry, sua negação é um projeto de poder, de dominação.

As pessoas estão fazendo uma leitura direta que contempla Bolsonaro e seu governo, querendo identificar na trama quem seria esse ou aquele personagem, mas infelizmente a realidade é mais ampla, onde nossa situação é apenas mais dramática.

A humanidade vive dias estranhos e superficiais, diante de uma realidade cada vez mais complexa, que mostra cada dia mais a possibilidade (como o cometa do filme) do fim de nossa civilização e de nossa existência. Talvez seja isso que não queiramos ver, para não admitirmos, ou por não sabermos explicar.

Não olhe para cima é cinema dos bons, e não fique surpreso se o roteiro passar a ser visto como verdadeiramente é, um grande roteiro, capaz de abarcar os mais variados aspectos de nossas existência com a profundidade que a realidade atual oferece.

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