A dominação pela fé é um crime recorrente que acontece no mundo cristão mais que nos outros é o que nos parece, sempre com os ingredientes de abusos psicológicos, morais, financeiros e sexuais, mas em nome de Jesus naturalmente. A Netflix nos traz mais uma dessas aberrações contra uma população, a série policial, “Rezar e Obedecer”, um mergulho no universo do fanatismo religioso assustador. Seus quatro episódios, com direção de Rachel Dretzin, documenta o funcionamento da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma denominação mórmon, cujos membros praticam a poligamia.
Conhecida pela sigla FLDS, a sede da igreja no Texas foi alvo de uma investigação policial em 2008, que mostrou sinais de abuso sexual, físico e psicológico em mulheres, algumas menores de idade. Segundo a série, elas são forçadas a se casar com homens mais velhos. O tema principal de “Rezar e Obedecer” é a ascensão de Warren Jeffs ao comando da FLDS. Ele é filho de Rulon Jeffs, que dirigiu a igreja até morrer, em 2002. Conhecido como “Tio Rulon” por seus seguidores, deixou cerca de 20 esposas e 60 filhos.
A herança religiosa coube a Warren, filho preferido, em detrimento de todos os outros, a série não especula o porquê dessa preferência, uma coisa pessoal apenas, sem nenhuma justificativa espiritual para essa escolha. Talvez por ser mais obediente, ele se casou com quase todas as esposas do pai. Porque um dos lemas da igreja é: ”Quanto mais esposas e mais filhos você tiver, mais alto no céu você vai chegar”, é o que diz um membro da igreja.
Vemos como é fácil se entrar para essas seitas, difícil é abandoná-las, especialmente para quem nasce e cresce dentro delas. Algumas mulheres que abandonaram a FLDS nos revelam o clima de terror que viveram, através de depoimentos tristíssimos. Elas ajudaram a polícia a investigar os casos de abuso. “A parte da frente do meu vestido de noiva ficou encharcada (de lágrimas)”, diz Elissa Wall, lembrando o dia em que, aos 14 anos, foi forçada a se casar com um primo. Rebecca, sua irmã, que se casou com Rulon, de 83 anos, quando tinha 19, nos diz: “Eu faria qualquer coisa para fazê-lo adormecer. Então eu poderia passar outra noite sem que ele me tocasse”.
A série provoca incômodo ao mostrar que a maior parte das mulheres da igreja fecha os olhos para as situações de abuso e continuam seguindo a liderança de Warren Jeffs mesmo depois que ele é condenado e preso.
“Rezar e Obedecer” não é um programa de fácil digestão, mas nos faz pensar, como é que as pessoas se entregam de tal forma a um líder espiritual, ou político, que seja, a ponto de não enxergarem seus crimes, mais ainda, de justificarem esses crimes como se fossem um simples desvio de percurso em nome da causa, do bem maior.
Comentários
Postar um comentário