Sempre que o país e a cultura estão em crise recorremos aos clássicos procurando respostas, essa é uma atitude clássica. E o momento que atravessamos não podia ser mais dramático. Estamos no meio de uma crise política, social e econômica, proveniente não apenas das atitudes do governo anterior, mas agravada por ele no bojo da econômica que já vinha e que foi catapultada pela pandemia do Covid-19.
Foi no meio
dessa que resolvi reler Machado de Assis, a princípio apenas pelo prazer da
leitura, e vi que estava tudo lá. Poucos compreenderam nossa sociedade
como ele. Nossas mazelas estão todas lá, em almas distorcidas pela pobreza de
espírito, pelo preconceito, discriminação social, patrimonialismo, baixa
política... Almas destroçadas pelo ciúme, inveja, avareza, loucura, que
procuram salvação ou sentido para a vida.
Como gente
de teatro eu não teria outra escolha senão trazer para a cena essas questões,
para que revelando possa nos ajudar a entender nossas almas, e a minorar essas situações
presentes em nossa sociedade.
Por isso criei
o projeto Machadianas Cênicas com o
objetivo de levar para a cena a obra não dramática daquele que é considerado
nosso maior escritor. Começamos com A
Cartomante porque trata de feminicídio, machismo, mazelas das mais
deletérias que estão na ordem do dia.
Nossa
proposta é produzir um espetáculo novo a cada seis meses, fuçando nossas almas
e nossas contradições, quem sabe, assim, nos entenderemos melhor.
As doenças de nossa sociedade são crônicas e se revelam sob múltiplas faces, e a cura, ou, pelo menos, o controle dessas doenças, certamente passa pela arte e pela cultura. É o que nos salva, apesar de alguns acharem que não precisam delas. Os vândalos do dia 8 de janeiro representam uma dessas faces, talvez a mais bizarra, a mais grotesca, que mostra bem o desprezo pelas coisas do espírito.
Viva
Machado de Assis! Viva o teatro!
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