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DEPOIS DA PANDEMIA

Tenho recebido muitas mensagens de otimismo quanto à regeneração da humanidade depois que o mundo se reerguer após esta pandemia. São mensagens bonitas, de esperança e crença na natureza humana, mas, diferente de antes, hoje sou um cético. Certamente que sairemos desta com mais medo, campo fértil para os charlatões de sempre, tanto religiosos, quanto políticos. Com mais interrogações a respeito do futuro e do desconhecido, e, para quem ainda não sabia, descobrindo que não somos nós, homens e mulheres, os últimos na cadeia alimentar, que acima de nós estarão esses bichos invisíveis que continuarão aparecendo, certamente mais perversos, porque desconhecidos, e insidiosos como o COVID-19. De resto a humanidade continuará como sempre. Os bons continuarão bons, os maus continuarão maus, os de bom senso, com bom senso, e os estúpidos da mesma forma estúpidos. Honestos, corruptos, inteligentes, fanáticos, fascistas, comunistas, botafoguenses, flamenguistas, carnívoros, veganos, lib

ENTRE O BOM SENSO E A LOUCURA

Como combate a pandemia que nos aflige temos visto o embate entre os que defendem o isolamento horizontal, com todos presos em casa, e o vertical, quando ficariam presos somente os idosos e os fragilizados por alguma doença. Os que defendem a segunda opção dizem que não se deve prejudicar a economia por sete mil mortos, número que consideram que perderemos caso afrouxemos a quarentena. Será que eles se incluem, e seus familiares, entre os mortos, ou só pensam nos mortos sendo de outras famílias, de preferência longe? Acho que acreditam na segunda opção, e são burros por isso, certamente não leem os jornais, nem veem o que passam na televisão. Os números apontados pelos órgãos que estudam essa pandemia de forma séria e criteriosa são estarrecedores. Vão dos poucos milhares a mais do milhão, caso não seja feito o isolamento adequado das pessoas. Não haverá economia, nem sistema de saúde, que aguente isso sem se arrebentar. Mas tem uma coisa mais grave, se pessoas aparecerem mo

TRÊS EM UM

 Antes ele era apenas meu filho, primogênito, e eu já era feliz por isso. Com ele descobri outro tipo de amor, que só pais que amam seus filhos conhecem. Depois dele entendi melhor o amor de minha mãe, de meus avós e de meu pai que morreu tão cedo. Aprendi muito com ele e achei que não cometeria os mesmos erros que cometi se tivesse outro. Ledo engano, os erros que cometi com ele evitei com o segundo, mas cometi outros. É a sina dos pais que amam. Depois ele se formou em educação física e se tornou mais um para mim, virou meu personal trainer , meu orientador e preparador corporal nas difíceis tarefas que tenho que enfrentar profissionalmente como ator, especialmente na atuação em Grande Sertão Veredas . Agora ele se formou em nutrição, meu nutricionista, já vinha me orientando é verdade, mas agora fará como profissional, orgulhoso por ter concluído duas graduações, uma seguida da outra, com aproveitamento acima de 9, em todas as matérias, nos dois cursos. Essa é a t

DEMOCRACIA AMEAÇADA

Desde a redemocratização após o período militar, nossa frágil democracia nunca esteve tão ameaçada como agora. Está sendo corroída por dentro como vítima de um câncer cuja metástase se espalha por todas as instituições que deveriam protegê-la. Do Congresso Nacional ao Supremo Tribunal Federal, passando pelo Palácio do Planalto, as forças do obscurantismo, da corrupção e do crime organizado, que parece mais unido e mais organizado que antes, avançam sobre a civilidade, os direitos fundamentais, a organização social, e a democracia propriamente dita.   O surto de civilidade que a Lava Jato trouxe na forma da lei, que pela primeira vez na história da nação levou para a cadeia os poderosos do colarinho branco, se vê ameaçada pelo projeto anticrime aprovado no Congresso, que restringe a ação de juízes, promotores públicos e polícias, na defesa da lei. Nossas autoridades fazem essas coisas pensando em suas próprias defesas, como salvaguardas contra acusações e possíveis condenações

A BOLSA DE VALORES E A NOSSA POBREZA

Vi nas redes sociais pessoas falando com ironia dos que começam a se interessar pela Bolsa de Valores, como se isso fosse uma aberração por não serem ricos. Demonstram essas pessoas que não sabem como as Bolsas funcionam, nem porque elas existem. Quando alguém de classe média aplica na Bolsa, além de estar projetando uma aposentadoria mais confortável, está injetando seu dinheiro numa empresa que irá com seu crescimento dar mais emprego, gerir mais recursos na economia real, pagando mais impostos. Na verdade a economia real e a Bolsa de Valores são coisas distintas, mas uma reflete a outra. Vejam então. Nos Estados Unidos, meca do capitalismo, cerca de 65%* da população aplica nas Bolsas direta, ou indiretamente através dos fundos de investimento. Numa população em torno de 320 milhões de pessoas quer dizer que mais de 160* milhões aplicam suas economias nas Bolsas. São 160 milhões de pessoas colocando suas economias em empresas que dão trabalho para quem precisa. Mesmo nos Esta

QUEM DEFENDE O CIDADÃO?

No mesmo momento em que Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, baixa uma resolução que freia todas as operações contra a corrupção, nisso incluso não só os agentes públicos corruptos, mas ainda a lavagem de dinheiro do crime organizado e do terrorismo, afirmando que faz para defender o cidadão contra possível devassa em seus dados pessoais. O Presidente da República, por sua vez, leva para debaixo de suas asas a ANCINE, responsável pela política do audiovisual no país. Levando-a do Rio de Janeiro, onde vive grande parte dos produtores do audiovisual, para Brasília, onde não há produção expressiva, para ficar perto dele e assim poder controlar, como revelou, para que não ajude a produções de filmes como aquele sobre a vida de Bruna Surfistinha. Alegando que faz isso em nome da família. Como se todas as famílias brasileiras pensassem iguais e quisessem as mesmas coisas, como se o dinheiro público não pertencesse a todas elas, mas só a parte delas, aquelas que pensam

PIAF & BRECHT, QUERO AINDA

Quando escrevo sobre teatro não é porque sou crítico, antes tenho o hábito de tecer somente sobre o que gostei, porque deixo aos críticos a tarefa que lhes cabe. Mas sábado fui ao Teatro Prudential, antigo Adolfo Bloch, assistir “Piaf & Brecht, a vida em vermelho”, com Letícia Sabatella e Fernando Alves Pinto. A junção que pelo inusitado nos traz grandes expectativas, o encontro entre a razão e a emoção, mas o espetáculo entrega menos do que promete. Ele propõe uma brincadeira que a plateia não entende e se entende não embarca. O texto diz que se trata de um ensaio e propõe um concurso para um futuro espetáculo, como uma disputa num programa de auditório. A plateia deverá decidir depois de ouvir as histórias e as canções de Edith Piaf e Bertolt Brecht, qual delas deverá ser encenada, como se a plateia não conhecesse, ou tivesse dúvidas sobre a criação dos dois artistas. A partir dessa proposta começam os equívocos, porque a direção em vez de aliviar, exacerba os defeitos